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quinta-feira, 19 de junho de 2008

Portugal saiu de África "sendo amado"

Gostei do comentário e quero que voces também gostem...

Raul de Taunay

Portugal "saiu de África sendo amado" nas suas ex-colónias e deixou um legado de "tolerância racial" que não se encontra noutros países africanos, defendeu embaixador do Brasil em Harare, capital do Zimbabué.

Raul de Taunay falava à Agència Lusa em Lisboa, a propósito do lançamento em Portugal da sua obra "Meu Brasil Angolano", em que o diplomata relata, na terceira pessoa, a sua segunda missão junto da representação diplomática brasileira em Luanda (1992).

Para Raul de Taunay, irmão do ex-embaixador brasileiro em Luanda Jorge de Taunay, as ex-colónias portuguesas beneficiam hoje de um "legado de tolerância", sobretudo a nível racial, que é fruto do mais moderado "temperamento" português.

"Quando se chega a um país africano sente-se o rancor racial (...), mas nas colónias portuguesas não é assim. Quando se chega a Moçambique vindo do Zimbabué... que alegria nas pessoas, é como uma oxigenação. Foi o grande legado de Portugal, sentimento que deixou nas suas colónias", defende o diplomata brasileiro.

O contraponto, afirma, é a colonização inglesa, que deixou "rancor e ódio" enquanto "os portugueses deixaram amor e saudade". Exemplo, afirma, é ainda hoje a comunidade portuguesa na cidade de Harare, onde actualmente reside Taunay, que é "muito querida e tem os melhores restaurantes e lojas" do Zimbabué.

Numa altura em que o Brasil se aproxima de África a nível político e económico, Taunay vê nas "muito actuantes" comunidades portuguesas "um arrimo" para os brasileiros. "Em Harare, o dia de Portugal é celebrado junto com os poucos brasileiros que ali vivem, tal como no do Brasil participam os portugueses", diz o diplomata. Outros exemplos de presença portuguesa no continente são as comunidades da Cidade do Cabo, Port Elizabeth ou Durban, todas na África do Sul, adianta.

"O Brasil sempre foi um país que olhou muito para o próprio umbigo, nunca teve sonhos de hegemonia, teve só uma guerrinha com o Paraguai porque foi invadido. (...) Este livro é um contributo para essa parceria que une Portugal ao universo afro-brasileiro. Temos de fazer um grande bloco de países de expressão portuguesa. É muito importante neste momento de globalização", afirma Taunay, que visita pela primeira vez Portugal.

"Meu Brasil Angolano", escrito em 1995 e agora publicado em Portugal por iniciativa da Editora Prefácio, foi lançado durante a Feira do Livro de Lisboa, e na quarta-feira será apresentado com a presença do autor na Missão Permanente do Brasil junto à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

Para o autor, a obra "de realidade e de ficção" foi "um mergulho sozinho, no desconhecido", que nasceu do amor pela cidade de Luanda, mas também da tragédia que começou de um tiroteio não longe da embaixada do Brasil e que arrastou Angola de volta para a guerra após as eleições de 1992.

Para o diplomata, Angola está a impôr-se no mundo e pode enfrentar as próximas eleições (Setembro) "perfeitamente preparada": com "maturidade, intelectualidade, cultura política e instituições sólidas".

O tiroteio durou vários dias, e a escrita do livro três semanas, num oitavo andar de um prédio esburacado de balas e sem elevador, afirma Raul de Taunay, que não voltou a Angola desde 1992, mas pretende fazê-lo e inclusivamente gostava de ver publicado o seu livro.
Sobre a sua primeira experiência em Angola, em 1975, o diplomata recorda sobretudo a figura do primeiro presidente após a independência, Agostinho Neto, que afirma ter reconhecido no Brasil um parceiro importante.

"Agostinho Neto era um estadista, tinha visão de historiador, uma visão nítida do que era o Brasil, do que poderia representar para a cooperação, sobre as afinidades económicas e culturais. Onde pudéssemos buscar víamos afinidades", afirma o diplomata, então em início de carreira.
Já Jonas Savimbi, adianta Raul de Taunay, "não sabia o que queria do Brasil, e dinheiro ou armas que o país não tinha para dar".

O Brasil, então uma ditadura, "tinha facilidade de dialogar com o MPLA, embora sempre manteve a neutralidade e uma cooperação propriamente dita, uma postura mais assistencialista" durante a guerra civil, afirma.

Licenciado em Direito pela Universidade Católica do Rio de Janeiro, Raul de Taunay graduou-se no Instituto Rio-Branco, do Ministério das Relações Exteriores brasileiro, em 1974. Além de "Meu Brasil Angolano", tem publicados "A Invasão da Amazónia" (2007), "Meu Canto Aberto" (1993), e "Opressiva Inconstância da Felicidade" (1985), entre outras obras, numa carreira literária paralela iniciada em 1972. Em 2005, foi homenageado pela Academia Brasileira de Letras, por mérito cultural.