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segunda-feira, 16 de junho de 2014

Diferença entre etnia, tribo, clã e linhagem - Makuta Nkondo

Uma etnia  ou um grupo étnico é grupo de pessoas que têm um herança sociocultural comum, como uma língua e tradições comuns, segundo a sociologia africana (Socaf).


Fonte: Angolense

Enquanto uma Tribo é um conjunto humano que reúne varias famílias sob a autoridade de um mesmo chefe e num espaço territorial dado.

Um Clã é um grupo de pessoas que têm um ancestral comum e uma Linhagem é uma descendência.

Noutras palavras, os povos ou as populações de ascendência comum constituem etnias; as etnias subdividem-se em tribos, as tribos em clãs e os estes em linhagens.

Em todos os países, cada pessoa tem origens étnica, tribal, ciânica e de linhagem. Em Angola, os Angolanos genuínos têm cada a sua etnia, a sua tribo, o seu clã e a sua linhagem de origem.

Essas pessoas são chamadas autóctones ou indígenas e cada um delas tem uma etnia, uma tribo, um clã e uma linhagem.

Cada etnia representa uma nação ou melhor uma Nação é mono-etnica.

Antes da Conferencia de Berlim (Alemanha) de 1885, África era subdivida em Nações verdadeiras cada uma das quais habitada por pessoas de ascendência comum.

Infelizmente, as potencias ocidentais participantes da referida Conferencia subdividiu o Continente Africano em países actuais, na ausência dos donos das terras.

Os países africanos resultantes da Conferência de Berlim são compostos de varias etnias, quer dizer de varias nações, culturas e tradições.

As culturas e tradições são étnicas, tribais e clânicas. Não existem culturas e tradições comuns para estes países.

Por exemplo, Angola tem os povos nomeadamente Kikongo, Kimbundu, Umbundu, Nganguela, Tchokwe, Kwanhama, etc.

Excepto a Somália que é povoada por pessoas pertencentes a uma única e mesma etnia, a Somali, todos os outros países actuais de África são multiétnicos e multiculturais.

No caso preciso de Angola, não existe uma Nação angolana, mas sim existem nações angolanas, assim como culturas angolanas. Uma cultura angolana não existe.

Pois, cada etnia representa uma nação e tem a sua cultura própria. Uma identidade cultural angolana ainda não existe, temos identidades culturais de Angola.

Apesar da sua diversificação, os povos bantuh – em língua kikongo muntu, no singular, significa pessoa; bantu é um plural prefixado de muntu que quer dizer pessoas - têm traços culturais comuns ou aproximados, um mesmo padrão cultural, pois defendem quase os mesmos valores culturais.

Como acima referido, as tradições bantu têm uma mesma coluna vertebral cujas vértebras representam cada uma cultura étnica.

No caso das línguas bantu, um caminho chama-se em Kikongo Nzila, em Umbundu, Onzila, em Nyaneka Onjila, em Kimbundu Njila. Cabrito em Kikongo Nkombo, em Umbundu Ohombo, em Nyaneka Onkombo, etc.

Água em Kikongo Maza, em Umbundu Omeva, em Kimbundu Omenha, etc.

Os nomes traduzem a origem de uma pessoa. Ban Ki-Moon é coreano, Mão Tse Tung, Chinês, Oliveira Salazar é Português, Makuta Nkondo  é bantu ou Africano (Nkongo ou Mukongo).

Ainda a propósito da língua, todos os povos criam as suas criancas nas suas línguas locais. Uma criança desde a nascença é criada na língua dos seus progenitores. Na etnia Kikongo, as primeiras palavras de um bebe são “Tata (pai), mama (mãe)”.

Uma língua que não é falada pelas crianças tende a desaparecer. É o caso da língua Kimbundu falada pelo povo que habita a faixa de terra que vai desde Luanda a Malange, passando por Bengo e Kwanza-Norte.

Outrora a língua Kimbundu era falada na capital de Angola, Luanda. Hoje, raras são as pessoas que falam o Kimbundu. Os próprios elementos pertencentes a esta etnia – Etnia Kimbundu - têm dificuldades de falar correctamente a sua língua. Mesmo nas aldeias da região kimbundu, esta língua tende a desaparecer, a favor da língua portuguesa.

O mesmo acontece com os cognomines (nomes) bantuh de que muitos autóctones rejeitam.

Os portugueses colonizaram Angola durante cerca de cinco séculos (cerca de 500 anos), mas os colonos brancos que aqui viveram não adoptaram os nomes bantu deste país.

Pelo contrário, deram aos indígenas Angolanos os nomes portugueses, dizendo que os nomes bantu eram de cães, macacos, matumbos e sanzaleiros. Criaram um complexo de inferioridade aos autóctones que rejeitaram os seus nomes e a sua originalidade.

Hoje, pelos nomes, muitos Angolanos confundem-se com os europeus.

Por complexo de inferioridade, aqueles que têm nomes bantu, estes (nomes) são amputados, de maneira a aportuguesa-los. Em vez de Nkanga (Kanga ou Canga, amarrar, prender, apreender, deter). Nkondo (Embondeiro) para Kondo ou Condo, Nkosi para Koxi ou Cose, Encoje, Mpanzu para Panzo, etc.

Aproveitando-se deste complexo de inferioridade manifestado pelos indígenas, durante o registo e as campanhas de saúde como a Pentamedina  os colonos deformavam os nomes destes; Sita (Estéril) para Esteves, Nuni (Ave ou pássaro) para Nunes, Mvika para Viegas, Yingila por Ingila, Venasakio para Venâncio, etc. Trocavam igualmente a ortografia e a fonética dos nomes bantu.

Tambem o alimento – que é um outro elemento de identidade cultural de um povo – assim como as maneiras de comer variam de uma etnia ah outra ou de uma tribo ah outra.

A mandioca (funge, kikuanga ou mandioca fervida) é o alimento de base do norte como nas regioes de Kikongo e Lunda; o milho (pirão) do povo do centro e sul de Angola. A banana o alimento principal do povo do Gabão e de São Tomé e Príncipe.

Mesmo o fenómeno da Globalização que reduz o Mundo em aldeia; pois o que acontece numa extremidade do Planeta Terra é visto simultaneamente noutra, através dos Meios de Comunicação e das TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação) não conseguem destruir por completo as culturas dos povos nem confundi-las.

O fenómeno globalização tende apenas a perverter os valores culturais específicos dos povos.

Como efeito da colonização e da globalização, muitos bantu deixaram de comer com as mãos, usando facas e garfos.

Para os complexados, comer bem na mesa com colher, faca e garfo é motivo de orgulho. Quem come na mesa com colher, faca e garfo é civilizado e assimilado. Em contrapartida, quem come com as mãos é considerado matumbo, não civilizado e sanzaleiro.

De igual modo, comer bife com batata ou arroz é motivo de orgulho, quando o funge é desprezível.

Sem complexos, os orientais como os japoneses, chineses e vietnamitas comem com palitos.

Quem diz que os nossos ancestrais eram matumbos, quando estes tinham os seus modos próprios de vida, as suas ciências como a medicina?

O Camaronês André Esomba contou-me que “num restaurante na Holanda foi motivo de rizo pelos brancos quando lhe viram descascar uma banana com as mãos e come-la, confundindo-lhe com um macaco”. Esomba disse aos que riam dele que “Camarões é um dos maiores produtores de banana no mundo. Só vou comer a banana com a faca, quando o europeu vai comer o pão com a faca”. Foi o silêncio no restaurante.

Todas as etnias bantu criam os filhos dentro da moral cívica das suas culturas. Os bakongo, levantam o recém-nascido pelas pernas e sopram-no nas orelhas recomendando: respeite e obedeça à tua mãe, ao teu pai e à toda pessoa. Toda pessoa é Deus.

Para os banto, o respeito pelos mais velhos é obrigatório. Uma criança não se intromete nas conversas dos pais ou mais velhos, não responde mal  a um mais velho e deve obedecer a todo a gente.

Um mau comportamento é condenável, como injuriar e lutar.

Em todas as etnias banto, uma mulher bantu usa pano. O uso de roupa indecente – calça, calção, mini-saia, cola, roupa transparente ou apertada (juste-au-corps) – não é aceite.

Uma mulher bantu não mostra as partes sensíveis do corpo como o umbigo, as mamas (seios), as coxas e o sovaco.

Um homem não trança cabelo, não usa brincos, não se maquilha nem faz cirurgia plástica. Também um homem não usa cabelo postiço (peruca) e não se veste de um modo indecente.

Em muitas etnias bantu, o alembamento ou casamento tradicional é o mais importante, é o que dá ao marido a categoria de genro. É com o alembamento que se adquire os poderes de marido sobre uma mulher e de pai sobre os filhos.

Sem  cumprir os deveres, sem as “famílias” da mulher comer e beber para a sua filha, o homem pode viver anos com ela e fazer tantos filhos, ele é solteiro  e não é considerado “genro” e nem tem poderes sobre estes (mulher e filhos). São os responsáveis da mulher que dão os poderes ao genro sobre a sua esposa e seus filhos.

Os títulos de genro e pai não se oferecem gratuitamente, conquistam-se.

O incesto é proibido. Um matrimónio ou uma relação amoroso entre “primos” é um crime. Se acontecer, os infractores serão obrigados a casarem-se e comer publicamente a carne de cão. Os infractores são comparados aos cães.

Um casamento só se realiza com o acordo dos pais, principalmente do chefe do clã ou “família” materno chamado “Nkulubundu”. Nunca um casamento ou alembamento se trata com os noivos (jovens) ou entre estes, secretamente, mas sim com os mais velhos destes e na presença das testemunhas chamados “Ntetembua”, representados pelos sábios e anciãos da comunidade.

Nenhuma etnia nem tribo banto recomenda a expulsão de uma viúva e dos filhos órfãos de um defunto.

A viúva e os filhos órfãos fazem parte da herança patrimonial de um defunto e como tal eles (viúva e filhos) devem permanecer em casa. Esta casa pertence ao Lumbu (quintal) do clã materno ou paterno do defunto. No fim do luto, a viúva declara de livre vontade se deseja continuar a viver no lumbu do falecido marido ou não.