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quarta-feira, 27 de junho de 2012

Guerrilheiro do Musseke

Estamos Juntos, mesmo sem pão, luz, água e saúde!

Retraido pela as makas que assola a bandula, no âmbito de requalificação urbana que se vai fazendo alongo desses anos na Mwangolé... Estão a mandar o povo para fora da cidade, num projecto urbano não acabado que não favorece vivência do povo... Sem escola, centro de saúde, super mercados e empregos! O povo não quere muito, basta uma habitação condigna com luz, água, saneamento básico. Queremos pão, saúde e escolas condignas.  E não esquecendo do nosso emprego com um salário justos.

Lembrei dessa música do MCK com o título "Guerrilheiro do Musseke", do seu primeiro  Álbum intitulado "Trincheira de Ideias", de 2002. Para terem uma noção de como é vida no musseque transcrevi a letra (só aquilo que percebí), da mesma para a vossa bela e consciente apreciação.

Guerrilheiro do Musseke

1º Verso
São 6 horas da manhã me levanto sem resmungar, meu pai está tomar banho e a minha mãe está arrumar.

Sou um puto de oito anos do musseque de Luanda, já ciente da realidade e de como a vida anda.

Meu pai é polícia há 15 anos com patente pequena, dizer a ele para deixar de ser polícia não vale à pena.

Minha mãe é quitandeira, Roque Santeiro é seu escritório, lugar pestilento igual a um prorrogatório.

Tenho dois irmãos canucos eu é que cuido deles, se não faço as tarefas levo um castigo daqueles, vou para escola sem matabicho e só pito quando regresso.

Nasci no berço da miséria, minha vida vivida no avesso,  mesmo sem tenes novos eu nuca baixo a cabeça, estou sempre na sala quando a primeira aula começa.

De regresso a casa, preparo os sacos de água fresca... Não há peixe se pescador não vai à pesca e eu pesco 7, 8, 9 sacos vou vendendo, vivendo e aprendendo. Do que faço é que vou comendo, a tardinha tenho dinheiro pra caular o pé de moleque.

Venci mais um dia, sou puto... Mais um guerrilheiro do musseque.

Eu sou angolano guerrilheiro.. Um guerrilheiro do musseque rodeado de lixo, numa terra onde a abundância é que nos feri.

>>>Corante>>>>

2º Verso

Vi meu pai sofrer, para eu poder ter uma boa educação, vi minha mãe comer cada vez menos pra poder alimentar o meu irmão.

Cartando água desde novo, batalhando contra a delinquência, caminhando quilómetros até ao hospital para curar pior das doenças. Acompanhado pela pobreza desde a escola até a casa, estudando na lata, vivendo do calor do sol a bater na chapa.

Fazendo de tudo, desde vender chuinga durante o recreio para obter a estratégia para ser amanhã, talvez um zungeuiro! ...utando Sida, Alfabetismo,  uma juventude materialista. Ouvido falar de armas, guerras, tiros, fumo e política.

Mantendo a boca fechada para que não se repita a tragédia, muitos morreram em vala comum pela ambição alheias. Não quero ser um deles, tudo eu quero é fazer um destino certeiro, quero poder dormir sem lembrar minas, tiros, ruídos de morteiros.

Consciente, eu luto contra aquilo que eu sei, tiro da mente o facto  de saber que o nosso é não é, não é de um só povo. É pra uma pequena nação, que continua esbanjar, é pra uma elite da qual eu sei que, nada posso esperar. Por isso, eu luto fazendo meu suor, meu coração em inocência, alegre-mo por que deixei na minha semente o espirito da resistência.

>>>Corante>>>>



2º Verso

Durmo com o um olho fechado e outro aberto, atento no futuro incerto. Perdido nas matas da fome, sinto a morte cada vez mais perto, foi invadido pelo exercito de mosquitos famintos, tenho os calcanhares  rebentados de percursos destintos, projecto a minha Kalash como a galinha protege os pitos.

A pobreza tornou-me um dos guerreiro da vida, musseque é o meu palco de acção, estou sempre em corrida. A falta de saneamento básico multiplica as doenças diarreicas, ruas cheias de águas paradas e torneiras secas, crianças loiras de desnutrição, barrigudas e carecas.  De mão dadas com o paludismo o bairro caminha, casas com paredes tortas, bancadas nas portas, lixeiras com crianças mortas, cubico de caporrotos listados como hortas.

Sem sombra de dúvida, viver no musseque é ser herói, quem vive no Chabá e Catambor sabe como é que o mambo doí. Não é fácil suportar os criminosos que o desemprego constrói. Todos choram quando ouvem dizer que, a luz foi. ter um rádio cassete é um risco, os galras entram do teto, te tchobolam uma faca do peito e os vizinhos dizem,  "bem feito". A polícia chega tarde e quando chega também rouba, é por isso que, temos os fim de semanas preenchidos de Combas. Apesar do do sofrimento, multiplicamos os filhos como bombas e por falta de pão e escola, descem em direcção a Mutamba, uns lavam carros outros pedem esmola. Este é o retrato Preto & Branco de um musseque chamado Angola!

>>>Corante>>>>


Até já!

Um grande abraço, garras e coragem para a toda malta do Chabá, Prenda , Catambor e outros musseques como: Sambizanga, Cazenga, Viana e Cacuco!!!